O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), informou hoje (29), em Brasília, que determinou a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado para a próxima terça-feira (4). Ela irá apurar a estruturação, expansão e funcionamento do crime organizado com foco na atuação de milícias e facções.
“É hora de enfrentar esses grupos criminosos com a união de todas as instituições do Estado brasileiro, assegurando a proteção da população diante da violência que ameaça o país”, disse Alcolumbre, por meio de nota.
Segundo o presidente do Senado, a instalação da CPI foi determinada após entendimentos com o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), um dos autores do requerimento para a criação da comissão.
O colegiado será composto por 11 senadores titulares e sete suplentes que terão o prazo de 120 dias para apurar a atuação, a expansão e o funcionamento de facções e milícias no país.
Caberá aos senadores investigar o modus operandi (modo de operar) das organizações criminosas, as condições de instalação e desenvolvimento em cada região, “bem como as respectivas estruturas de tomada de decisão, de modo a permitir a identificação de soluções adequadas para o seu combate, especialmente por meio do aperfeiçoamento da legislação atualmente em vigor.”
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou “estarrecido” com o número de mortos na Operação Contenção, no Rio de Janeiro, que deixou mais de 100 mortos.
“O presidente ficou estarrecido com o número de ocorrências fatais que se registaram no Rio de Janeiro”, disse Lewandowski em entrevista coletiva, no Palácio da Alvorada.
“[Lula] também, de certa maneira, se mostrou surpreso que uma operação desta envergadura fosse desencadeada sem conhecimento do governo federal, sem nenhuma possibilidade do governo federal poder de alguma forma participar com os recursos que têm, sobretudo com informações, com apoio logístico”, afirmou o ministro.
Para o ministro, a operação das forças policiais do Rio de Janeiro foi “extremamente violenta”.
“E vamos pensar se esse tipo de ação é compatível com o Estado Democrático de Direito que nos rege a todos a partir do advento da Constituição de 88”, argumentou.
Segundo ele, diante da “magnitude do problema”, o presidente determinou que a equipe converse com Castro para identificar as necessidades do estado e de que forma o governo federal pode contribuir.
“Vamos procurar minimizar o sofrimento do povo, apoiar as forças de segurança e intensificar naquilo que for possível o combate às organizações criminosas”, disse.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública já atendeu ao pedido de Castro para transferência de 10 detentos para presídios federais que teriam liderado, de dentro da cadeia, as ações de retaliação à operação, que culminaram com o caos na cidade.
Identificação dos corpos
De acordo com Lewandowski, de imediato, o governo enviará peritos criminais e médicos legistas, da Polícia Federal e da Força Nacional, para a identificação dos corpos.
“Temos um banco de dados de DNA, de balística, muito bem operado pela Polícia Federal, para elucidar os crimes, para identificarmos os mortos, para sabermos se são pessoas ligadas às organizações criminosas ou não”, disse.
Além disso, ele afirmou que é possível aumentar os contingentes da Força Nacional, que já atuam no estado desde 2023, da PF e da Polícia Rodoviária Federal.
Garantia da Lei e da Ordem
Sobre a possibilidade de decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Lewandowski afirmou que é uma decisão do presidente da República, a partir de um pedido formal do governador do estado. A medida permite o envio das Forças Armadas para atuar na segurança pública em situações excepcionais.
A última GLO foi decretada por Lula em novembro do ano passado, para garantir a segurança das comitivas que participaram da cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
O ministro disse que a hipótese de GLO não foi discutida durante a reunião de hoje com o presidente Lula. “Essa maneira violenta de lidar com o crime organizado já foi tentada muitas vezes”, disse, ao defender, novamente, o trabalho de inteligência.
“O crime organizado, hoje, está altamente sofisticado e nós acreditamos, ao nível do governo federal, que não basta força bruta, força física. O enfrentamento se faz com inteligência, com planejamento e com coordenação de ações das diversas forças. É isso que nós pretendemos, inclusive, com a PEC da Segurança Pública que está sendo examinada pelo Congresso Nacional”, destacou.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quarta-feira (29) que o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, preste esclarecimentos sobre a Operação Contenção, que deixou pelo menos 119 mortos.
O ministro também marcou para o dia 3 de novembro uma audiência, que será realizada na capital fluminense, para tratar do caso.
A operação foi realizada na última terça-feira pelas polícias civil e militar do Rio de Janeiro, nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, para o cumprimento de 180 mandados de busca e apreensão e 100 mandados de prisão, sendo 30 expedidos pelo estado do Pará. Segundo o governo do Rio, o objetivo era conter a expansão da facção criminosa Comando Vermelho.
De acordo com balanço apresentado pelas forças de segurança nesta quarta-feira, 58 pessoas morreram em confronto com a polícia. Houve ainda a morte de quatro policiais. Dezenas de corpos, entretanto, foram revelados na manhã de hoje e retirados da área de mata do Complexo da Penha, o que aumentou o número de mortes para 119.
Houve ainda 113 prisões, sendo que 33 eram pessoas de outros estados que atuavam no Rio de Janeiro.
Os confrontos e retaliações promovidas pela facção criminosa impactaram vias expressas, serviços públicos e até mesmo o funcionamento de empresas na cidade, que fecharam as portas mais cedo e liberaram funcionários.
A decisão do ministro foi proferida no âmbito do processo que é conhecido como ADPF das Favelas, ação na qual a Corte já determinou medidas para combater a letalidade policial na capital fluminense.
Moraes foi escolhido para tomar decisões urgentes envolvendo o processo, diante da ausência de um relator para o caso. A ação era comandada pelo ex-ministro Luís Roberto Barroso, que se aposentou na semana passada.
Conforme a decisão, Claudio Castro deverá apresentar 18 esclarecimentos sobre a operação:
1. Relatório circunstanciado sobre a operação;
2. Prévia definição do grau de força adequado e justificativa formal para sua realização;
3. Número de agentes envolvidos, identificação das forças atuantes e armamentos utilizados;
4. Número oficial de mortos, feridos e pessoas detidas;
5. Adoção de medidas para garantir a responsabilização em caso de eventuais abusos e violações de direitos, incluindo a atuação dos órgãos periciais e o uso de câmeras corporais;
6. Providências adotadas para assistência às vítimas e suas famílias, incluindo a presença de ambulâncias;
7. Protocolo ou Programa de medidas de não repetição na forma da legislação vigente;
8. Preservação do local para a realização de perícia e conservação dos vestígios do crime;
9. Comunicação imediata ao Ministério Público;
10. Atuação da polícia técnico-científica, mediante o envio de equipe especializada ao local devidamente preservado, para realização das perícias, liberação do local e remoção de cadáveres;
11. Acompanhamento pelas Corregedorias das Polícias Civil e Militar;
12. Utilização de câmeras corporais pelos agentes de segurança pública;
13. Utilização de câmeras nas viaturas policiais;
14. Justificação e comprovação da prévia definição do grau de força adequado à operação;
15. Observância das diretrizes constitucionais relativas à busca domiciliar;
16. Presença de ambulância, com a indicação precisa do local em que o veículo permaneceu durante a operação;
17. Observância rigorosa do princípio da proporcionalidade no uso da força, em especial nos horários de entrada e saída dos estabelecimentos educacionais. Em caso negativo, solicita-se informar as razões concretas que tenham tornado necessária a realização das ações nesses períodos;
18. Necessidade e justificativa, se houver, para utilização de estabelecimentos educacionais ou de saúde como base operacional das forças policiais, bem como eventual comprovação de uso desses espaços para a prática de atividades criminosas que tenham motivado o ingresso das equipes.
Provas serão aplicadas nos dias 16 e 17 de dezembro, dentro das unidades prisionais (Foto: PP)
A Polícia Penal de Goiás volta a quebrar o recorde de inscritos em uma edição do Exame Nacional do Ensino Médio para adultos privados de liberdade (Enem PPL). Em 2025, são 5.574 reeducandos e reeducandas aptos para o teste, um acréscimo de 75% em relação ao ano passado (3.184).
As inscrições foram feitas em 78 unidades de Polícia Penal. As provas serão aplicadas nos dias 16 e 17 de dezembro, dentro das unidades prisionais.
Enem PPL
No primeiro dia, serão feitas as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação e Ciências Humanas e suas Tecnologias. No segundo dia, os exames de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias.
A PPGO registrou, pelo sexto ano seguido, crescimento no número de inscritos no Enem PPL. O salto no período de 2019 a 2025 alcança 1.085%.
“Esse aumento exponencial reflete o forte compromisso da instituição com o ensino dos privados de liberdade. A educação, sem dúvida, é um dos grandes pilares da reintegração social”, afirma o diretor-geral Josimar Pires.
O Enem PPL avalia o desempenho do participante que concluiu o Ensino Médio e, a partir de critérios utilizados pelo Ministério da Educação (MEC), permite o acesso ao Ensino Superior por meio de programas como Sisu (Sistema de Seleção Unificada), ProUni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior).
Além disso, contribui para elevar a escolaridade da população prisional brasileira.
Nesta quarta-feira (29), a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) sediou a oitava edição do Fórum O Otimista Brasil. O evento — organizado pelo grupo de comunicação O Otimista — reuniu representantes dos três Poderes e do setor produtivo para debater temas relevantes para o desenvolvimento do Brasil.
O fórum contou com a presença do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, do ex-governador Ciro Gomes, e dos deputados distritais Wellington Luiz (MDB) e Paula Belmonte (Cidadania), respectivamente presidente e segunda vice-presidente da CLDF.
“Nós estamos aqui, na Casa do povo, representando os 3 milhões de habitantes do Distrito Federal. Esse é um dia extremamente importante para nós, um dia histórico”, classificou Wellington Luiz. Já Belmonte ressaltou os valores que devem nortear a atividade legislativa: “Nós acreditamos em um país democrático, com liberdade, segurança jurídica e igualdade de oportunidades”.
Eficiência no Judiciário
O ministro Luiz Fux conduziu a primeira palestra, com uma aula magna sobre Análise Econômica do Direito, campo que estuda o sistema judiciário sob a ótica da eficiência.
Fux destacou alguns preceitos da teoria, entre eles a busca pela consensualidade e por soluções extrajudiciais para evitar um número excessivo de processos; o uso de estatísticas para diagnosticar a situação do Judiciário; e o tempo adequado de duração processual. MInistro
Ministro Luiz Fux (Foto: Carlos Gandra/Agência CLDF)
“A duração razoável do processo é algo que preocupa o ambiente de negócios do Brasil e o próprio sistema de Direito. O investidor não vai entrar aqui sabendo que se tiver um problema vai levar 20 anos [para resolver]”, avaliou o ministro do STF.
O magistrado falou também sobre a elevada litigiosidade no ambiente brasileiro. “O CNJ informa que, para cada dois brasileiros, um litiga em juízo. Então, isso abarrota o Poder Judiciário”, analisou Fux. Ele também o citou o contexto empresarial: “No Brasil, o nível de litigiosidade entre as empresas é de 96%”.
Fux ressaltou que o Brasil tem conseguido diminuir a duração processual, com a redução de formalidades e o uso de instrumentos como o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), por meio do qual os tribunais fixam teses que devem ser aplicadas em casos semelhantes.
Desenvolvimento socioeconômico
O ex-governador e ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes realizou a segunda palestra magna do evento, abordando a atual conjuntura socioeconômica do Brasil e as perspectivas para o futuro. Ele avalia que a polarização política observada no país nos últimos anos tem sido extremamente prejudicial à nação, impedindo que a população compreenda com clareza as reais necessidades do país e dificultando o enfrentamento de problemas estruturais.
“Nenhuma sociedade apaixonada por político está sadia. Estão todas extremamente doentes. A política é uma atividade complexa, contraditória, e precisamos abordar a contradição com frieza, racionalidade e método”, ponderou.
Ciro Gomes (Foto: Carlos Gandra/Agência CLDF)
Dentre as “tragédias sociais” diagnosticadas pelo político, o crescimento desenfreado do crime organizado é uma das mais preocupantes. Segundo ele, mais de 25% do território urbano brasileiro é dominado por alguma facção criminosa, e o Estado tem se mostrado ineficiente no controle da situação.
Ciro Gomes traçou ainda um panorama sobre os dados de desemprego e renda no país, questionando a metodologia utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para aferir os índices.
Ele argumenta que os dados oficialmente divulgados revelam uma possível incoerência na forma como a instituição classifica a população ocupada. Isso ocorre porque, segundo a metodologia aplicada, qualquer pessoa que tenha realizado alguma atividade remunerada — mesmo que informal, esporádica ou de subsistência — é considerada ocupada, independentemente da estabilidade ou da renda gerada.
Além disso, o ex-ministro mencionou o fato de indivíduos inscritos em programas assistenciais, como o Bolsa Família — que atende 49,40 milhões de pessoas atualmente — poderem ser classificados como em atividade remunerada, o que, segundo ele, mascara a real dimensão do desemprego e da precarização do trabalho no país.
“Não estou falando contra [os programas assistenciais], estou apenas constatando, a partir de uma metodologia, que isso é algo completamente patológico, doentio. O que coloca uma nação para frente é o trabalho qualificado e decentemente remunerado”, destacou.
O baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nas últimas décadas é, segundo ele, um sintoma da falta de planejamento de Estado — ao contrário do que ocorre na China. Ciro Gomes apresentou dados que evidenciam o descolamento do Brasil em relação ao país asiático do ponto de vista econômico.
Conforme destacou, em 1985 o Brasil tinha uma população de 130 milhões de habitantes e um PIB de US$ 835 bilhões, enquanto a China registrava um PIB de US$ 710 bilhões para uma população de 800 milhões de habitantes. Em 2024, o PIB brasileiro passou para US$ 2,27 trilhões, enquanto o chinês chegou a US$ 18,4 trilhões — o que representa um crescimento de 26 vezes em relação a 1985.
Ao explicar o impressionante crescimento econômico do país asiático, Ciro Gomes destacou a fundação de um capitalismo altamente produtivo, aliado à manutenção de um Estado forte e garantidor. “É a junção da iniciativa privada com um Estado poderoso que explica essa equação — e não a burrice brasileira da prostração ideológica ao neoliberalismo e ao financismo”, concluiu.
Inclusão de mulheres
A deputada Paula Belmonte (Foto: Carlos Gandra/Agência CLDF)
O evento contou com o painel “O papel da Justiça na promoção de igualdade e desenvolvimento”, com a mediação da deputada Paula Belmonte. “Nós precisamos de mais mulheres no Parlamento, no Judiciário, no Executivo. O importante é nós conseguirmos fazer com que as nossas meninas sonhem”, disse a deputada.
Representando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Renata Gil ressaltou medidas para a inclusão de mulheres no Judiciário, em especial nas instâncias superiores. Ela mencionou ações afirmativas do CNJ, como uma resolução que estabelece que as promoções por merecimento deverão alternar entre listas mistas e listas exclusivas de candidatas mulheres.
Inteligência artificial
Também participou do painel o advogado Marcos Rogério de Souza, ex-secretário especial de assuntos jurídicos da Casa Civil da Presidência da República. Entre outros assuntos, ele abordou a necessidade de atualizar a legislação do Brasil para abarcar o contexto atual.
“Ainda hoje não temos marco regulatório de inteligência artificial, de redes sociais, de cibersegurança e tantos outros temas que são fundamentais”, apontou. Ele considera que o ecossistema de Justiça precisa de leis capazes de captar as diferentes dimensões da realidade.
“E essa realidade que o século XXI nos impõe precisa de uma boa regulação e precisa sobretudo de julgadores que tenham consciência sobre esses temas, para que possam produzir boas decisões”, refletiu o advogado.
Marcos Rogério de Souza (Foto: Carlos Gandra/Agência CLDF)
“A inteligência artificial não é isenta”, alertou Marcos Rogério. Ele lembrou de uma “experiência desastrosa” dos Estados Unidos com o uso de inteligência artificial na Justiça: “Pela maneira como foram alimentadas as bases de dados, a IA expressou um viés algorítmico que associa negros e regiões pobres com criminalidade”. A forma de alimentação da inteligência artificial, portanto, poderia conduzir a decisões enviesadas.
O fórum também teve a participação do secretário nacional de microempresa e empresa de pequeno porte, Maurício Juvenal. Ele representou o ministro do Empreendedorismo, Márcio França. “Estamos tentando oferecer algumas respostas para os 23 milhões de CNPJs ativos no país, trazendo simplificação burocrática e letramento digital”, destacou o secretário.
O seminário teve ainda a apresentação do gerente corporativo de licenciamento e meio ambiente da Galvani Fertilizantes, Christiano Brandão.
Auditório da CLDF durante o “Fórum O Otimista Brasil” (Foto: Carlos Gandra/Agência CLDF)
O treino na quadra do Ginásio do Maracanãzinho está prestes a começar. O Fortaleza Basquete Cearense se apronta para enfrentar o Flamengo pelo NBB (Novo Basquete Brasil) no dia seguinte. Alguns atletas já batem bola na quadra, quando, em um certo momento, o volume da música ambiente aumenta. O ritmo é o pagode. Algo bastante familiar para os jogadores brasileiros. Mas para a técnica da equipe, nem tanto. A sérvia Jelena Todorovic, de 32 anos, foi anunciada pelo clube em julho e ainda se acostuma com as músicas brasileiras.
“Posso afirmar com confiança que danço forró muito bem. Mas ainda estou aprendendo a sambar. Toco piano e canto, adoro a música brasileira. Não sei o que é melhor no Brasil, a música ou a comida”, conta Todorovic em entrevista à Agência Brasil.
O trabalho na equipe cearense é o primeiro da carreira dela como head coach, a função principal no banco de reservas. Depois de anos observando como grandes figuras do basquete europeu comandam seus times à beira da quadra, Todorovic se sentiu à vontade para dar o próximo passo depois de receber carta branca da direção do Fortaleza Basquete Cearense para trazer os jogadores que desejasse e implantar um sistema com ideias originais. Em mais de uma resposta, ela cita sua principal crença como treinadora.
“Para mim, o time que vence é aquele que joga melhor coletivamente, não o melhor no papel”, expõe.
O começo no NBB tem sido animador. Os três primeiros jogos da equipe foram no Rio de Janeiro, contra clubes de tradição: venceu Vasco e Botafogo antes de cair para o poderoso Flamengo. Todorovic conta que, assim que fechou com o Fortaleza, falou com o técnico da seleção brasileira masculina, o croata Aleksandar Petrovic. A cada dia, ela conhece melhor os jogadores daqui, sejam adversários ou parceiros. Entende melhor as barreiras – como a língua – e as vantagens que o trabalho com atletas brasileiros permite.
“Atletas brasileiros, seja do futebol, vôlei ou basquete, sempre tiveram muita criatividade. Eles também são muito físicos. Tento trazer também uma influência europeia, de atenção ao detalhe, disciplina. Ensiná-los a ler o jogo. Meus jogadores são grandes pessoas e grandes profissionais. Existe uma barreira linguística, sim, mas com ajuda deles eu consigo me comunicar”, pontua.
Sérvia Jelena Todorovic, de 32 anos, é a primeira treinador mulher da Liga masculina de basquete, que existe desde 2009 – Lázaro Viana/Fortaleza Basquete Cearense/Direitos Reservados
Por falar em barreiras, a simples presença de Todorovic comandando treinos e jogos do Fortaleza Basquete Cearense derrubou um dos maiores tabus no basquete profissional masculino do Brasil, que se estende também a outros esportes. Ela é a primeira mulher a comandar um time no NBB, a liga masculina de basquete que existe desde 2009.
“Certamente isso significa muito. Mas eu me vejo, antes de tudo, como uma técnica. Toda pessoa deve conseguir um emprego baseado nas suas capacidades e se ela merece o cargo. Se você é homem ou mulher, de uma equipe masculina ou feminina, é desafiador do mesmo jeito”, afirma a treinadora.
Jelena Todorovic vai além. Recorre à história pessoal para provar que tudo é possível.
“As pessoas acham que as mulheres não conseguem impor autoridade ou não têm o que é necessário para lidar com a pressão de um time masculino. Isso não é verdade. Também há exemplos de homens treinando times femininos e acontece a mesma coisa, não conseguem lidar com a pressão. Você deve ser julgado pela sua capacidade de liderança, seu conhecimento, sua forma de se conectar com as pessoas. Daí vai vir a autoridade, não do seu gênero. Quando estou na quadra eu uso um blazer e dentro dele tem um broche com uma foto minha de quando eu era pequena, devia ter uns quatro anos. Eu uso aquilo para lembrar a mim mesmo que quando eu tinha essa idade eu já queria ser treinadora. E aquela menininha nunca deixou ninguém dizer não para ela”, conclui.
De fato, ela foi vista à beira da quadra nos primeiros jogos com um blazer que já se tornou marca registrada. Com uma carreira toda pela frente, ainda há muito tempo para construir uma identidade como uma técnica pioneira no basquete brasileiro.
O Exército israelense anunciou nesta quarta-feira (29) que está restabelecendo o cessar-fogo na Faixa de Gaza, “após uma série de ataques que atingiram dezenas de alvos terroristas”.
“De acordo com orientação do governo, após uma série de ataques que atingiram dezenas de alvos e neutralizaram terroristas em resposta às violações do Hamas, o Exército retomou a aplicação do cessar-fogo”, diz comunicado dos militares israelenses.
As autoridades israelenses afirmaram que suas forças atacaram “30 terroristas que ocupavam posições de comando em organizações” que operam dentro do território palestino.
A nota diz ainda que as forças israelenses continuarão a respeitar o acordo de cessar-fogo, mas responderão com firmeza a qualquer violação do pacto.
Pelo menos 91 palestinos, incluindo 24 crianças e sete mulheres, morreram entre a tarde dessa terça-feira (28) e hoje devido aos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, disseram fontes médicas e da Defesa Civil do enclave à agência de notícias EFE. A onda de ataques, que atingiu de norte a sul a Faixa de Gaza, começou na tarde de ontem, por ordem do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, depois de ter acusado o Hamas de violar o cessar-fogo, em vigor há mais de duas semanas.
Netanyahu determinou ao Exército que realizasse “ataques contundentes na Faixa de Gaza”, após reunião do Gabinete de Segurança, segundo comunicado do governo de Israel.
A reunião de segurança foi convocada depois de o Hamas ter devolvido a Israel os restos mortais de um refém, que, após exames forenses, foram identificados como pertencentes a um prisioneiro cujo corpo já tinha sido recuperado em 2023.
IO ministro israelense da Defesa acusou o Hamas de um ataque no sul de Gaza, que matou um soldado israelense nessa terça-feira, e de violar os termos relativos à devolução dos corpos dos reféns mortos. O Hamas alegou não ter “qualquer ligação” com o ataque e insistiu no seu compromisso com o acordo de cessar-fogo.
O Hamas rejeitou o que chamou de “alegações infundadas” e acusou Israel de “tentar fabricar falsos pretextos em preparação para novas medidas agressivas”.
Ataques israelenses
Israel realizou os ataques em resposta ao que considerou serem violações do acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos (EUA). Na manhã desta quarta-feira, colunas de fumaça subiam em várias partes do território enclave. O presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu, no entanto, que “nada” poria em risco o acordo de cessar-fogo, em vigor desde 10 de outubro, que intermediou entre Israel e o Hamas.
A Defesa Civil havia adiantado, na última madrugada, que pelo menos 50 pessoas, incluindo 22 crianças, tinham sido mortas em ataques israelenses no território.
Os ataques atingiram casas, escolas e blocos residenciais na Cidade de Gaza e Beit Lahia, no norte do enclave, Bureij e Nuseirat, no centro, e Khan Younis, no sul.
Três mulheres e um homem foram retirados dos escombros da casa da família al-Banna, no bairro de Sabra, ao sul da cidade, acrescentou a Defesa Civil.
No campo de refugiados urbano de Bureij, cinco membros da família Abu Sharar foram mortos num ataque aéreo contra a sua casa, na zona do Bloco 7, acrescentou a AFP. Em Khan Younis mais cinco pessoas morreram quando aeronaves atingiram um veículo numa estrada a noroeste da cidade.
A Defesa Civil informou que as suas equipes de resgate “trabalham em condições extremamente difíceis” e que teme que o número de mortos aumente, pois algumas pessoas desaparecidas podem estar presas sob os escombros.
“Nada vai pôr em risco” o cessar-fogo, afirmou o presidente norte-americano, Donald Trump, nesta semana. “É preciso compreender que o Hamas representa uma parte muito pequena da paz no Oriente Médio e precisa de se comportar.”
Acordo
O acordo de cessar-fogo intermediado pelos EUA, o Egito, Catar e a Turquia deveria implementar a primeira etapa do plano de paz de 20 pontos de Trump para Gaza.
O acordo previa que o Hamas devolvesse os seus 48 reféns, vivos e mortos, no prazo de 72 horas após a entrada em vigor do cessar-fogo, em 10 de outubro.
Todos os 20 reféns israelenses vivos foram libertados em 13 de outubro em troca de 250 prisioneiros palestinos e 1.718 detidos em Gaza.
Israel entregou também os corpos de 195 palestinos em troca dos corpos dos 13 reféns israelenses devolvidos pelo Hamas até a data, juntamente com os de dois reféns estrangeiros – um tailandês e um nepalês.
Onze dos reféns mortos que ainda estão em Gaza são israelenses, um é tanzaniano e um é tailandês.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está reunido com ministros desde as 10h desta quarta-feira (29) para tratar dos desdobramentos da Operação Contenção, ocorrida no Rio de Janeiro. O encontro emergencial está acontecendo no Palácio da Alvorada.
A ação policial, ocorrida nessa terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na capital do estado, deixou mais de 130 mortos, mas a contagem de corpos – muitos ainda sendo retirados de área de mata pelos próprios moradores dessas comunidades – ainda não está fechada.
Participam do encontro com Lula:
o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin,
Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública),
Rui Costa (Casa Civil),
José Múcio (Defesa),
Gleisi Hoffmann (Secretária de Relações Institucionais),
Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania),
Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação),
Anielle Franco (Igualdade Racial),
Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal,
As forças de segurança do estado realizaram a operação mais letal da história, para combater o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha. Em retaliação, os criminosos interditaram 35 ruas em diversos pontos da cidade, com veículos atravessados, latões de lixo, barricadas e pilhas de materiais em chamas.
Para especialistas, a operação gerou um grande impacto na capital fluminense e não atingiu o objetivo de conter o crime organizado, pelo contrário, ações como esta apenas fortalecem a violência.
Lula chegou a Brasília na noite desta terça-feira, após uma viagem ao Sudoeste Asiático.
Uma reunião comandada pela Casa Civil já havia começado a tratar sobre o tema nesta terça-feira, antes da chegada de Lula.
O governador do Rio, Cláudio Castro, disse nesta quarta-feira (29) que a Operação Contenção foi um sucesso e que as únicas vítimas dos confrontos foram os policiais mortos.
“Temos muita tranquilidade de defender o que foi feito ontem. Queria me solidarizar com as famílias dos quatro guerreiros que deram a vida para libertar a população. Eles foram as verdadeiras quatro vítimas. De vítima ontem, só tivemos os policiais”, disse Castro em entrevista no Palácio Guanabara, sede do Executivo estadual.
“Quais são os indícios que levam a crer que todos eram criminosos? O conflito não foi em área edificada. Foi todo na mata. Não creio que tivesse alguém passeando na mata num dia de conflito. Por isso a gente pode tranquilamente classificar de criminosos”, acrescentou o governador.
Cláudio Castro disse ainda que o número oficial de mortos na operação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão nessa terça-feira (28) é de 58 mortos, incluindo os dois policiais civis e os dois policiais militares. Ele não explicou o motivo da mudança da contagem oficial, mas disse que o dado oficial vai mudar “com certeza”.
Ontem, o governo falou em 64 pessoas mortas, inclusive os quatro agentes das forças de segurança. O governador também não quis comentar sobre os cerca de 60 corpos retirados da área de mata pelos moradores do Complexo da Penha após a operação mais letal da história do estado.
O governador destacou que o estado do Rio é o epicentro do problema da segurança pública que “assola o Brasil”.
“Mostramos ontem um duro golpe na criminalidade e que temos condições de vencer batalhas. Mas temos a humildade de reconhecer que essa guerra não será vencida sozinhos. Agora é momento de união e não de politicagem”.
Moradores do Rio de Janeiro viveram momentos de medo nessa terça-feira (28) diante da operação policial. Milhares de pessoas enfrentaram dificuldades para conseguir chegar em casa devido aos bloqueios das vias da cidade, além de terem de fugir dos tiroteios.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil criticaram a ação que gerou grande impacto na capital fluminense e não atingiu o objetivo de conter o crime organizado.
Para a professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF) Jacqueline Muniz, a operação foi amadora e uma “lambança político-operacional”. Movimentos populares e de favelas também criticaram as ações policiais e afirmaram que “segurança não se faz com sangue”.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) está acompanhando os desdobramentos da Operação Contenção realizada nessa terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte da capital fluminense. A instituição atua por meio do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP/MPRJ) e de seu Plantão de Monitoramento, para assegurar o cumprimento das diretrizes fixadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na ADPF 635, que disciplina operações policiais em comunidades do Estado. A informação foi divulgada pelo MPRJ nesta quarta-feira (29).
ADPF significa Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental e é um instrumento de controle de constitucionalidade utilizado para garantir que atos do poder público não violem princípios essenciais da Constituição Federal. Ela serve para proteger direitos e valores fundamentais quando não há outro recurso legal cabível.
O procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, se encontra em contato permanente com as equipes e monitora continuamente a situação.
Técnicos periciais foram enviados ao Instituto Médico-Legal (IML) para a realização de perícia independente, seguindo atribuições legais. As informações referentes aos desdobramentos da operação foram encaminhadas pelo Plantão de Monitoramento para a análise da 5ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro.