Pernambuco, terra de rica história política, onde já floresceram líderes visionários e movimentos que marcaram época, hoje se vê mergulhado num mar de contradições e alianças duvidosas. Enquanto o Brasil assiste à consolidação de polos ideológicos claros em diversos estados, Pernambuco permanece no limbo da incoerência, onde partidos que, no plano nacional, defendem o conservadorismo e o bolsonarismo, em solo pernambucano se curvam ao lulismo de forma vergonhosa e estratégica.
O exemplo mais gritante vem do Partido Republicanos. Em São Paulo, o partido abriga o governador Tarcísio de Freitas, aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro e símbolo da nova direita administrativa. Já em Pernambuco, o mesmo Republicanos deve lançar Silvio Costa Filho ao Senado, com apoio declarado de Lula, o grande antagonista do bolsonarismo. Que tipo de coerência política permite esse tipo de ambiguidade? Nenhuma — é o jogo pelo poder nu e cru.
O PSD de Gilberto Kassab segue a mesma cartilha. Em São Paulo, alinha-se com Bolsonaro; em Pernambuco, André de Paula, homem de trajetória tradicional, caminha lado a lado com o PT. Já o PP, outro pilar da base bolsonarista em Brasília, aqui tem como figura de proa Dudu da Fonte, aliado de João Campos e do PSB, partido que continua servindo de bengala para o lulismo em solo nordestino.
Diante desse cenário de alianças cruzadas, surge a pergunta inevitável: terá Gilson Machado alguma chance real? Ex-ministro, ex-candidato ao Senado, derrotado por duas vezes mesmo com o apoio direto de Bolsonaro, Gilson tenta novamente — agora em um terreno político ainda mais desestruturado e confuso. Será ele o nome certo? Ou mais um a ser engolido pelo caos partidário pernambucano?
O que se observa é um estado politicamente órfão de verdadeiros conservadores. Pernambuco abriga uma direita de fachada, uma direita envergonhada, que se diz conservadora nos discursos de rede social, mas se alia às pautas progressistas quando há votos e verbas no horizonte. Trata-se de uma “direita comunista”, se é que o termo pode ser usado com alguma ironia. Porque, na prática, falta coerência, falta coragem e, acima de tudo, falta identidade.
Enquanto estados como Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso se destacam por uma economia vibrante, gestão eficiente e expansão de infraestrutura — fruto de uma aliança clara entre povo e governo —, Pernambuco continua apostando no assistencialismo e na politicagem de balcão. A elite recifense, abrigada nos casarões de Apipucos, ainda canta as glórias de Arraes, como se o passado bastasse para justificar o presente miserável.
É hora de acordar.
O pernambucano precisa entender que o “pão e circo” político o levou à falência institucional. A reconstrução começa com uma escolha: manter a ilusão ou encarar a realidade de frente. Vinho e poesia não pagam as contas, e o povo está cansado de discursos sofisticados sem resultado. Pernambuco já foi o leão do Nordeste. Hoje, não passa de um gato domesticado pelos próprios erros.