O Cirurgião Que Desafiou a Coroa Britânica: A Inusitada História de Dr. Pablo Mirizzi
Este artigo foi elaborado com ajuda do “AMIGO INTELLIGENCE” por Dr. Gustavo Carvalho.*
Em uma época onde as grandes potências moldavam o destino do mundo, uma história de convicção e genialidade médica se desenrolava silenciosamente em Córdoba, Argentina. No Hospital de Clínicas, entre corredores simples e salas de cirurgia iluminadas por lâmpadas brancas, um homem já era uma lenda antes mesmo de saber que seu nome atravessaria o Atlântico e chegaria ao mais alto escalão da monarquia britânica.
Dr. Pablo Luis Mirizzi era filho de imigrantes italianos. Cresceu em meio aos livros, destacando-se cedo nos estudos e conquistando a medalha de ouro ao se formar na Universidade Nacional de Córdoba. Seu talento o levou à Clínica Mayo, nos Estados Unidos, onde aprimorou seus conhecimentos, mas foi na Argentina, entre seus colegas e alunos, que ele decidiu deixar seu maior legado. Dedicado ao estudo das vias biliares, Mirizzi revolucionou a cirurgia ao desenvolver a colangiografia intraoperatória – a “Mirizzigrafia” – e descrever um quadro clínico até então desconhecido, que hoje leva seu nome: o Síndrome de Mirizzi.
Seu prestígio crescia como fogo em campo seco. Os cirurgiões do mundo inteiro estudavam suas técnicas, aplicavam seus métodos, respeitavam sua precisão. Foi por isso que, quando Elizabeth II, a Rainha da Inglaterra, enfrentou um problema biliar grave que exigia uma cirurgia delicada, seu médico pessoal não teve dúvidas: deveria encontrar o melhor especialista do mundo para operá-la.
A busca foi meticulosa. Os melhores hospitais, os maiores nomes da cirurgia britânica, europeia e americana foram analisados. No final, apenas um nome parecia reunir experiência, conhecimento e técnica sem igual: Dr. Pablo Mirizzi.
Naquela manhã, quando o médico real entrou no salão onde Elizabeth II tomava seu chá matinal, o silêncio cerimonioso foi interrompido por uma revelação inesperada:
— Majestade, encontramos o cirurgião mais experiente para realizar sua operação.
A Rainha ergueu os olhos de sua xícara e o encarou com a serenidade que a tornaria icônica ao longo dos anos.
— E quem é ele?
— Um argentino. Pablo Mirizzi, especialista em cirurgias biliares, inventor de técnicas amplamente utilizadas em todo o mundo. É a melhor escolha.
Elizabeth II pousou delicadamente a xícara sobre o pires e assentiu, sem hesitar.
— Então ele será o escolhido.
O médico real respirou aliviado. Havia encontrado a solução perfeita para a saúde da soberana. Mas seu alívio durou pouco. No dia seguinte, ao entrar novamente no salão para dar continuidade aos preparativos, ele trazia um semblante sério.
— Majestade, temos um problema.
— O que houve? — perguntou a Rainha, curiosa.
— O Dr. Mirizzi está disposto a operá-la… mas apenas em Córdoba, Argentina. Ele não aceita realizar a cirurgia em outro lugar.
O silêncio que se seguiu foi tão cortante quanto um bisturi afiado. Os membros da corte trocaram olhares. O médico inglês parecia constrangido, quase incapaz de proferir as palavras.
Elizabeth II permaneceu impassível por alguns instantes, mas sua surpresa ficou evidente no arqueamento sutil da sobrancelha.
— Como disse?
— Ele se recusa a deixar seu hospital. Diz que lá tem as condições ideais para realizar a cirurgia com segurança. Se desejar ser operada por ele, terá que viajar até Córdoba.
Dessa vez, até os mais disciplinados cortesãos não esconderam o espanto. A Rainha da Inglaterra, líder do maior império da época, atravessar o Atlântico para ser operada em um hospital argentino? Era impensável.
Mas Elizabeth II não era uma mulher comum. Seu olhar, que antes carregava apenas curiosidade, agora exibia algo próximo da admiração.
— É admirável — disse, com um leve esboço de sorriso.
Mas, por mais que respeitasse a convicção de Mirizzi, a Rainha sabia que viajar para a Argentina era uma impossibilidade. O Reino Unido não podia se dar ao luxo de vê-la ausente por tanto tempo, ainda mais por uma questão de saúde. A decisão foi tomada: outro cirurgião faria a operação, mas utilizando as técnicas desenvolvidas pelo argentino.
A cirurgia aconteceu no Hospital King Edward VII, o mais prestigiado hospital privado da realeza britânica, onde eram tratados os monarcas e membros da aristocracia britânica. O responsável pelo procedimento foi Sir Richard Bayliss, renomado cirurgião britânico, consultor real e especialista em doenças hepatobiliares. Com precisão e maestria, Sir Bayliss utilizou a colangiografia intraoperatória, desenvolvida por Mirizzi, para guiar a operação da Rainha, garantindo um procedimento seguro e eficiente.
A cirurgia foi um sucesso, e Elizabeth II se recuperou sem complicações. Mas a história ficou.
Em Córdoba, Pablo Mirizzi continuou sua rotina no Hospital de Clínicas da Universidade Nacional de Córdoba, alheio às coroas e títulos. Para ele, a maior honra não era operar uma monarca, mas formar cirurgiões que perpetuassem seu legado. Seu nome, que já estava gravado nos anais da medicina, agora também entrava para a história como o homem que se recusou a operar a Rainha da Inglaterra — não por desrespeito, mas por princípios.
E, sem nunca sair de seu hospital em Barrio Alberdi, ele colocou a Argentina no mapa da cirurgia mundial.
*Gustavo Carvalho, MD, MBA, MSc PhD, é Cirurgião Geral, Professor Adjunto de Cirurgia Geral da UPE, Pós Graduado em Cirurgia Digestiva pela Universidade KEIO no Japão e Consultor de Inteligência Artificial da AMIGO TECH.
Instagram: doutorgustavocarvalho
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